segunda-feira, 23 de maio de 2011

Culpa: a busca por respostas!


            O principio da culpa estudado no mês de maio nos grupos de Amor-Exigente mexe com os sentimentos das pessoas e provoca um turbilhão de reflexões e, no final, traz uma sensação de liberdade muito grande.
            Liberdade? Sim, de liberdade. E sabe por quê? Porque aprendemos a diferenciar culpa de responsabilidade.

            Eu aprendi a perceber bem o que a culpa faz com as pessoas a partir das reuniões de acolhimento. É quando as pessoas chegam pela primeira vez nos grupos de Amor-Exigente. Aliás, eu ando até pensando em bater uma foto quando alguém chega pela primeira vez e após algum tempo no grupo. A diferença é visível e incrível.

A grande pergunta talvez seja esta: quando é que começamos a sentir culpa?

Longe de querer apresentar aqui uma resposta que possa resumir todos os momentos que podemos nos sentir culpados, eu gostaria apenas de levar a uma reflexão como forma de contribuir para o entendimento porque nos sentimos culpados quando deveríamos nos sentir responsáveis.

Melody Beattie no seu excelente livro “Co-Dependência Nunca Mais”, tem uma frase que gosto muito e que pode servir de caminho para o que quero escrever: “somos tão felizes quanto felizes são os nossos relacionamentos”.

A culpa pode se apresentar quando algo no nosso circulo de relacionamento, seja o conjugal, com os filhos ou trabalho e amigos, não vai muito bem e procuramos apenas em nós a causa do problema.

E nestes momentos aparece o questionamento que nos leva diretamente à culpa: onde foi que eu errei? Como se precisássemos ser perfeitos e o ato de errar precisa ser punido. Claro que a punição seria o sentimento de culpa.

E a culpa, longe de ser algo construtivo, só nos traz sentimentos negativos como ódio, rancor, mágoa, tristeza, além de fragilizar a pessoa baixando a sua auto-estima e tornando-a facilmente manipulável.

E mais engraçado nesta história, se é que seja possível dizer engraçado, é que todos os dias escutamos as seguintes frases: “errar é humano” – “é errando que se aprende”.

Ora, se isto é verdade, porque nos culpamos quando erramos?

Talvez porque acreditamos que é errado errar e porque buscamos a perfeição. Achamos que devemos ser infalíveis e ilimitados. Esquecemos que somos gente e que os nossos recursos são limitados.

E porque este principio é libertador?

Porque passamos a compreender a grande diferença entre culpa e responsabilidade.

É loucura tentar buscar apenas a resposta por algo que o outro cometeu. Quem fez precisa arcar com as conseqüências do seu ato. Se eu me achar culpado pelo que o outro fez, estou tirando dele a oportunidade de crescer com aquilo que praticou.

Ora, quando é o meu filho que faz algo que, aos olhos da lei, precisa sofrer punição, a culpa é dele e precisa realmente arcar com as conseqüências. Eu, enquanto pai, caso ele seja menor de idade, sou responsável pelo meu filho. Más não culpado pelo que ele fez. Se eu assumir a culpa pelo ocorrido, precisaria na verdade ocupar o lugar dele perante a lei. Porém, a lei não aceita isto. Ainda bem, uma vez que alguns pais certamente assumiriam o lugar dos filhos se assim fosse possível.

Por isso é que não devemos pensar “onde foi que eu errei com o meu filho", e sim o que vou fazer a partir do que aconteceu.

Quando eu assumo a responsabilidade do papel de pai, eu verdadeiramente assumo o controle da situação e não saio procurando culpados que justifiquem a atitude do meu filho.

Daí a grande diferença entre culpa e responsabilidade. Se eu me achasse culpado, ficaria fragilizado e não teria condições físicas e emocionais para poder encontrar uma saída para o problema.

Neste sentido o Amor-Exigente faz que tenhamos um olhar mais carinhoso com nós mesmos a ponto de entender que a atitude que tomamos no passado, foi baseada nos recursos disponíveis naquele momento. Se fosse hoje, talvez tomássemos outra atitude, totalmente diferente daquela que outrora tínhamos tomado.

Portanto, eu não posso achar que errei naquele momento e ficar me culpando, pois deveria ter tido outra atitude.

Ao entender este processo também vai entender que a responsabilidade, além de libertar das amarras da culpa, leva-nos a ação e ao entendimento da necessidade de saber perdoar a si mesmo.

A espiritualidade, que tem o poder de nos trazer serenidade, é um fator determinante para que possamos entender os nossos limites e resgatar o entendimento do que seja ser gente.

Paz e bem para todos.



Sérgio Carlos de Oliveira – Serginho

Coordenador Regional do Programa do Amor-Exigente em SC